Quem é W7 Cabral?

Minha foto
RJ, Brazil
Sou surdo! Ator, Editor e Professor. w7cabral@gmail.com/ Twitter - @w7cabral

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Comunicação além dos gestos - LIBRAS

Maior parte dos brasileiros desconhece aquele que é o segundo idioma do país


A Língua Brasileira de Sinais, popularmente conhecida como LIBRAS, é um sistema de comunicação que utiliza gestos e sinais, em vez de sons para transmitir alguma informação à outra pessoa. Com gramática própria, esse sistema de representação é conhecido como SignWritng, forma de escrita em códigos composta de informações referentes às mãos, movimentos, expressões da face e do corpo.


A língua de sinais é utilizada por surdos ou por pessoas com dificuldades para ouvir. Infelizmente, os surdos têm dificuldades para ingressar no mercado de trabalho e também de ter acesso à cultura, em virtude do pouco preparo com curso de capacitação para recebê-los com intérpretes e tecnologia apropriada. Entretanto, estes cenários começam a sofrer mudanças a favor de quem não pode ouvir.


O sistema de Libras é uma linguagem existente em todo o mundo para a comunicação entre os surdos. Ele é usado no Brasil com base na língua de sinais francesa, porém, o modelo não é universal. Cada país, ou até mesmo regiões de uma mesma nação, possui sua própria estrutura de comunicação. Para determinar o significado de cada gesto, sinais têm diferenças em sua formação, como a localização em relação ao corpo ou expressão facial.


Para Denize Menezes, formada em proficiência na tradução e interpretação de Libras/Português/Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina, o maior desafio para tradução de aulas e palestras em escolas são os textos complexos, linguagem técnica de determinados assuntos e matérias sem conhecimento prévio. "O emissor deve ter clareza nas informações, explicar detalhes, usar imagens ou exemplos para ensinar conteúdos mais difíceis, porém, nem sempre isso acontece... Eis o desafio, porque o surdo tem memória visual, ele precisa “ver”, imaginar o que está aprendendo", completa Denize.


O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi a primeira escola de surdos no Brasil foi fundada por Dom Pedro 2º, em 26 de setembro de 1857, no Rio de Janeiro. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem 5.750.809 pessoas com problemas relacionados à surdez - 519.560 com idade até 17 anos e 276.884 entre 18 e 24 anos. Já alguns dados do MEC mostram que, em 2003, 56.024 alunos surdos frequentavam o ensino fundamental; 2.041, o médio. Somente 3,6% do total de surdos matriculados conseguiram concluir a educação básica. As informações listadas acima revelam a exclusão escolar provocada pelas barreiras na comunicação entre alunos surdos e professores.


A língua de sinais muda de acordo com o idioma de diferentes países


Ao ser perguntada pela reportagem se colégios ou locais que sempre recebem surdos devem oferecer cursos de Libras aos ouvintes, Denize explica que esta é um ponto fundamental. "Os colégios e repartições públicas devem disponibilizar pelo menos um curso básico de LIBRAS para os ouvintes. Além de ser o segundo idioma oficial do nosso país, a verdadeira inclusão não envolve apenas ter o interprete no local. Em 2009 a estimativa de surdos só no Brasil era de 5,7 milhões. Sendo assim, fazer a inclusão valer é um empenho não de alguns, mas de todos", completa.


Na formação do surdo com a língua de sinais, Denize destaca que o aprendizado depende de quando foi diagnosticada a surdez na criança, seja nos primeiros meses de vida ou quando mais velho. “A Língua de sinais é o idioma do surdo, que deve ser introduzido na vida dele o mais cedo possível através de estímulos a comunicação, como recursos visuais e sinais. Em geral, os pais optam por fazer um acompanhamento com fonoaudiólogo, dessa forma, muitos surdos aprendem a arte de ler lábios e oralizar.


Normalmente, é nessa época (aos sete anos) que introduzimos a escrita (língua portuguesa). Dessa maneira, o surdo adquire sua visão de mundo e conhecimento tão importantes para formação de um individuo. Infelizmente, não acontece assim com a maioria. Quando o diagnóstico de surdez é tardio, a criança é privada da comunicação em LIBRAS, então perde-se muito”, explica a intérprete.


“Conheço surdos habilidosos, muito bons no que realizam e não sabem LIBRAS, usam gestos e mímicas para se comunicar. De acordo com a sua realidade, conseguem comunicar-se bem. No que diz respeito ao rendimento e formação escolar, sem dúvida saber LIBRAS e a Língua Portuguesa facilita o processo”, ressalta Denize.


Cada vez mais a cultura abre espaço aos surdos, como em palestras com tradução para libras e estenotipia, que é o texto descrito sobre a fala de alguém. Medidas de inclusão, não só para surdos, como também para cegos, também passam a ser adotadas. Nos locais onde a música é a principal atração, como baladas e shows, Denize explica que os surdos apenas se divertem.


"Por incrível que pareça, alguns dançam melhor do que nós ouvintes. Os surdos são sensíveis a vibração do solo, sons graves da música em ambientes fechados. Há festas exclusivas para surdos, com tecnologia de som e plataformas de vibração", detalha.


Em 2011, aconteceu pela primeira vez no país a primeira Balada para Surdos brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Inspirada na versão holandesa, a Sencity nasceu em Amsterdã e foi repetida com muito sucesso em Londres-Inglaterra e em Sidney-Austrália. Estas festas especiais têm como uma das principais atrações um rapper surdo que compõe com língua de sinais, shows de dançarinos e "discotecagem" de aromas.


Denize Menezes considera o seu trabalho satisfatório e edificante. “Amo os surdos! Isso por si só me motiva a interpretar. Acima de tudo, acredito e sempre vou acreditar na capacidade intelectual dos surdos. Ver o aprendizado e amadurecimento em cada um deles é uma experiência única e marcante”, finaliza.


Nenhum comentário:

Postar um comentário