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sábado, 17 de março de 2012

Pirâmide Alimentar para Crianças de 2 a 3 anos

RESUMO

Com a finalidade de promover orientação nutricional e hábitos alimentares saudáveis para crianças de 2 a 3 anos de idade, fez-se a adaptação da Pirâmide Alimentar. A pirâmide foi baseada em dieta padrão (1300kcal) com seis refeições, calculada de acordo com as recomendações para a idade. As porções e os equivalentes foram estabelecidos de acordo com o total de energia de cada alimento utilizando-se o software Virtual Nutri. Foi avaliada a distribuição percentual dos macronutrientes em relação ao valor energético total, obtendo-se 15% para proteínas, 59% para carboidratos e 26% para lipídios. Foram calculados ainda os valores para ferro total e ferro biodisponível. Os alimentos estão organizados em oito grupos: arroz, pão, massa, batata, mandioca (5 porções), verduras e legumes (3 porções), frutas (3 porções), carnes e ovos (2 porções), leite, queijo e iogurte (3 porções), feijões (1 porção), óleos e gorduras (1 porção) e açúcares e doces (1 porção). A pirâmide alimentar apresenta-se como um instrumento importante para orientação nutricional, servindo como guia para o planejamento de uma alimentação saudável para crianças de 2 a 3 anos de idade.
Termo de indexação: criança, dieta, hábitos alimentares, pirâmide alimentar.


INTRODUÇÃO

Nos primeiros anos de vida, é essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança uma alimentação qualitativa e quantitativamente adequada, pois ela proporciona ao organismo a energia e os nutrientes necessários para o bom desempenho de suas funções e para a manutenção de um bom estado de saúde1. As práticas alimentares são adquiridas durante toda a vida, destacando-se os primeiros anos como um período muito importante para o estabelecimento de hábitos alimentares que promovam a saúde do indivíduo.
Para as crianças entre 2 e 3 anos de idade, a alimentação deve ser capaz de suprir as demandas de macro e micronutrientes2. A necessidade de maior cuidado em relação à alimentação deste grupo decorre principalmente do fato de nessa faixa etária ocorrer a incorporação de novos hábitos alimentares, implicando o conhecimento de novos sabores, texturas e cores, experiências sensoriais que influenciarão diretamente o padrão alimentar a ser adotado pelo infante3. Durante este período, a alimentação da criança pode ser a mesma da família, com algumas adaptações em relação à forma de preparo e apresentação dos alimentos de acordo com a idade3,4.
As crianças com 2 e 3 anos de idade apresentam maior estabilidade no crescimento, devido à diminuição da velocidade de ganho de peso e estatura, o que condiciona diminuição do apetite. Por isso, as demandas de energia e de proteínas por quilo de peso diminuem em comparação com as necessidades durante o primeiro ano de vida2.
Nesta fase, o infante está desenvolvendo sua coordenação motora, com destaque à aquisição da capacidade de se alimentar sozinho. O estabelecimento de horários regulares para as refeições e a seleção de utensílios (copos, pratos e talheres) adequados para cada idade apresentam-se como condição importante para a aceitação e experimentação dos alimentos. Os lanches, como refeições intermediárias, devem ser saudáveis, pois nesta idade os hábitos alimentares estão em formação2,4.
O apetite da criança de 2 a 3 anos é irregular e pode variar de um dia para o outro. Assim, em um dia ela pode aceitar determinado alimento e no outro recusá-lo, atitude que pode originar ansiedade na família e nas pessoas responsáveis pelo seu cuidado5.
Recomenda-se fazer a introdução de novos alimentos e preparações de forma gradual, respeitando-se os interesses da criança e auxiliando no aprendizado do consumo de uma dieta equilibrada. A criança, ao experimentar e aceitar o alimento, apresenta uma grande chance de aprová-lo e incluí-lo em seus hábitos alimentares4,6.
Conduzir de forma apropriada a alimentação da criança requer cuidados relacionados aos aspectos sensoriais (apresentação visual, cores, formatos atrativos), à forma de preparo dos alimentos (temperos suaves, preparações simples e alimentos básicos), às porções adequadas à capacidade gástrica restrita e ao ambiente onde serão realizadas as refeições, que são fatores a serem considerados, visando a satisfação de necessidades nutricionais, emocionais e sociais, para a promoção de uma qualidade de vida saudável4,6.
A alimentação, envolvida por emoções e sensações, apresenta-se como um ato de convívio social, no qual os alimentos são fortes representações psicológicas criadas em cada indivíduo, a partir do seu relacionamento único e intransferível com os produtos a serem ingeridos por ele. Essas experiências são conduzidas desde o nascimento, com o aleitamento materno e, posteriormente, com ações e reações diante dos alimentos, e influenciadas constantemente pela forma como eles são oferecidos.
A criança deve consumir a quantidade de alimento necessária para alcançar seu potencial genético de crescimento. O tamanho corporal a ser alcançado na vida adulta não é de primordial importância; entretanto, o atraso no crescimento, devido às circunstâncias nutricionais e ambientais, está associado com maiores taxas de morbidade e mortalidade, com deficiências no aprendizado e com menor capacidade física e intelectual na vida adulta6.
As fases da vida pré-escolar e escolar e da adolescência são excelentes momentos para uma orientação nutricional ativa e participativa, portanto, a alimentação deve ser saudável e adequada a cada uma destas fases, respeitando-se as características individuais6,7.
Com a finalidade de orientar a população, são estabelecidos os guias alimentares, os quais devem ser entendidos como instrumentos educativos, para orientação nutricional e alimentar, que, baseados nas recomendações nutricionais, nos hábitos e nos comportamentos alimentares, informam os indivíduos sobre a seleção, a forma e a quantidade de alimentos a ser consumida. Diversos países têm apresentado guias de acordo com seus hábitos alimentares, disponibilidade de alimentos e necessidades nutricionais dos diferentes grupos populacionais8.
Os guias alimentares são expressos na forma de ícones (pirâmides, arco-íris, e outros), com os grupos de alimentos representados por figuras, em diferentes níveis, e com o estabelecimento das porções para o consumo. As medidas caseiras, os pesos em gramas e os equivalentes em energia dos diferentes alimentos consumidos em refeições representam as orientações básicas para uma alimentação saudável. Peña & Molina (1998)9 também descrevem o Guia Alimentar como "instrumento educativo que adapta os conhecimentos científicos sobre requerimentos nutricionais e composição de alimentos em mensagens práticas que facilitam a diferentes pessoas a seleção e o consumo de alimentos saudáveis".
Considerando a complexidade dos fatores envolvidos na alimentação das crianças de 2 a 3 anos e as dificuldades na oferta de uma dieta adequada, deve ser enfatizado o papel fundamental dos pais, educadores e profissionais da área da saúde na formação de bons hábitos alimentares e na construção de uma atitude madura da criança em relação aos alimentos. Assim, surgiu a necessidade de desenvolver um instrumento para orientação nutricional, baseado na proposta da Pirâmide Alimentar, que fosse adaptado às crianças entre 2 e 3 anos de idade.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

A partir da Pirâmide Alimentar adaptada para a população brasileira foram desenvolvidas outras pirâmides alimentares6,8,10-13. Esta pirâmide para crianças de 2 a 3 anos de idade foi baseada em dieta padrão planejada para esta faixa etária, contendo os alimentos mais comumente consumidos.
A quantidade de dieta de 1300kcal foi calculada de acordo com a recomendação14 para indivíduos nessa idade, estabelecendo-se as porções em função dos grupos dos alimentos (cereais, leguminosas, hortaliças, frutas, leite, carnes e ovos, açúcares e gorduras). O tamanho das porções foi adaptado de acordo com a faixa etária, considerando-se a limitada capacidade gástrica das crianças nessa idade.
A dieta foi elaborada com alimentos típicos e do hábito alimentar, distribuídos em seis refeições (café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da noite).
O cálculo da dieta padrão foi realizado utilizando-se o software "Virtual Nutri"15 que possui informações de alimentos in natura; de preparações com alimentos básicos da dieta, realizadas no Laboratório de Técnica Dietética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; de alimentos industrializados, cujos dados foram obtidos diretamente nos Centros de Informação ao Consumidor das empresas e através de coleta dos dados expressos nos rótulos de embalagens.
As porções foram estabelecidas por refeição, de acordo com o total de energia de cada alimento e da dieta (1300kcal), respeitando-se o número de porções de cada grupo.
Foram elaboradas tabelas de alimentos com os equivalentes (em energia) de cada nível da pirâmide, com as respectivas porções em medidas caseiras e em gramas, possibilitando as indicações para as substituições. 

RESULTADOS

Foi avaliada a distribuição percentual dos macronutrientes em relação à dieta estabelecida de 1300kcal, obtendo-se 15% para proteínas, 59% para carboidratos e 26% para lipídios. Cabe destacar que todos os nutrientes encontram-se dentro dos intervalos preconizados: proteína – 10% a 15%, carboidrato – 50% a 60% e lipídio – 20% a 30%6.
Os alimentos componentes da dieta (Tabela 1) foram distribuídos em seis refeições, especificando-se os pesos em gramas, as medidas caseiras, as porções e os grupos a que pertencem de acordo com os níveis da pirâmide. 

Tabela por dia
Decidiu-se empregar a estrutura da pirâmide, considerando-se a experiência bem sucedida de sua utilização e indicação para orientação nutricional de indivíduos adultos, pois expressa de forma clara como escolher os alimentos que devem ser consumidos.
A pirâmide infantil foi dividida, então, em quatro níveis:
Primeiro nível: Grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca:constituído por cereais, tubérculos e raízes, fontes de carboidratos; contribui com a maior parte das calorias da dieta – 5 porções, sendo pelo menos uma de grãos integrais.
Segundo nível:Grupo das verduras e legumes e Grupo das frutas:fontes de vitaminas e minerais – 3 porções.
Terceiro nível:Grupo do leite, queijo e iogurte:fontes de proteínas, cálcio e vitaminas – 3 porções; Grupo das carnes e ovos:alimentos fontes de proteínas, ferro e vitaminas; inclui carne bovina e suína, aves, peixes e frutos do mar, vísceras e ovos – 2 porções; Grupo dos feijões: inclui feijão, soja, ervilha, grão de bico, fava e amendoim; alimentos fontes de proteína vegetal – 1 porção.
Quarto nível: Grupo dos óleos e gorduras (margarina/manteiga, óleo) e Grupo dos açúcares e doces (doces, mel e açúcares): fontes de gorduras e carboidratos, respectivamente; os alimentos destes grupos devem ser consumidos com moderação, pois se encontram no topo e em todos os outros níveis da pirâmide, estando presentes na composição e preparação dos alimentos – 1 porção.
Os oito grupos foram compostos com alimentos semelhantes (Figura 1) e foi definido o número de porções diárias para cada grupo (os valores das porções estão de acordo com a dieta padrão calculada).

Com relação à distribuição das refeições, 19% do valor calórico total (VCT) diário se concentra no café da manhã, 23% no almoço e 24% no jantar. O restante se distribui entre os lanches intermediários, sendo cerca de 10% em cada um. Esta distribuição não segue aquela recomendada para adultos6, considerando-se que as calorias devem ser distribuídas mais homogeneamente durante o dia, não se concentrando apenas nas refeições principais.
Foi realizado o cálculo do ferro biodisponível da dieta apresentada (1300kcal), aplicando-se o modelo teórico proposto por Monsen & Balintfy (1982)16, onde é considerada como fator estimulante da absorção do ferro a presença de carne e vitamina C nas refeições17. De acordo com os valores obtidos por refeição e o total diário (Tabela 2), a dieta proposta atinge 91,10% do valor recomendado para o ferro total (10mg) e 112,86% para o ferro biodisponível (0,7mg), para crianças de 2 a 3 anos14.

Para cada grupo da pirâmide, foram estabelecidas as porções dos alimentos equivalentes em energia, cujos valores foram obtidos no software "Virtual Nutri"15. Para a elaboração dos equivalentes, os componentes da dieta tiveram seus valores energéticos fixados em função da quantidade presente. Os oito grupos da pirâmide com os respectivos alimentos e seus equivalentes em porções (medidas caseiras e gramas) foram relacionados (Anexos 1 a 8) com o objetivo de definir produtos substitutos para os componentes de uma dieta qualitativa e quantitativamente equilibrada e especificar seus equivalentes em energia, além de facilitar o entendimento e a transmissão das orientações em termos do tamanho das porções.
Visando complementar a orientação nutricional, baseada na pirâmide alimentar infantil, foram definidas algumas recomendações básicas: escolher uma dieta variada com alimentos de todos os grupos da pirâmide; dar preferência aos vegetais como frutas, verduras e legumes; ficar atento ao modo de preparo dos alimentos, procurando facilitar a mastigação e deglutição pelas crianças e dando prioridade aos alimentos em sua forma natural e às preparações assadas, cozidas em água ou vapor e grelhadas; apresentar as preparações culinárias de maneira a atrair a atenção das crianças; ler os rótulos dos alimentos infantis industrializados para conhecer o valor nutritivo do alimento e o modo de preparo; introduzir novos alimentos e preparações de forma gradual e insistente, para que a criança possa aprovar e incluir em seus hábitos alimentares; utilizar açúcares, doces, sal e alimentos ricos em sódio com moderação; consumir alimentos com baixo teor de gordura, dando preferência às carnes magras; usar gorduras poliinsaturadas encontradas em óleos vegetais (girassol, milho, canola e soja). 

DISCUSSÃO

A discussão pode ser conduzida sob dois aspectos: um referente aos grupos e quantidades de alimentos propostos na dieta das crianças de 2 a 3 anos e outro sobre a presença e necessidade de guias alimentares para a população infantil.
Foi necessária a adequação do tamanho da porção ao consumo habitual, às variações com relação ao apetite, bem como à limitada capacidade gástrica das crianças de 2 a 3 anos, considerando-se que porção é a quantidade de alimento em sua forma usual de consumo, estabelecida a partir das necessidades nutricionais de cada grupo etário6. Assim, o tamanho das porções mostra-se menor quando comparado com as quantidades para adultos no tocante à maioria dos grupos de alimentos, mantendo-se inalterado apenas para o Grupo das frutas e para o Grupo do leite, queijo e iogurte.
O leite mereceu atenção especial pelo fato de ser fonte de cálcio, micronutriente importante em todas as fases da vida e essencial durante a infância para a mineralização óssea e manutenção do crescimento ósseo. Com porções diárias de leite consegue-se, em média, 800mg de cálcio, suficientes para cobrir as necessidades exigidas para crianças14.
Os óleos, as gorduras, os açúcares e os doces devem ter seu consumo moderado, uma vez que já existem de forma natural, de composição ou de adição, em vários alimentos e preparações. As legendas para óleos (gota) e açúcares (cubo) estão distribuídas por todos os níveis da pirâmide5.
É recente a discussão sobre a presença de guias alimentares nos países da América Latina e a necessidade de desenvolvê-los e implementá-los. Os estudos tiveram início a partir de 1992, com a Conferência Mundial de Nutrição em Roma18.
Em 1994, o México e a Venezuela eram os únicos países da América Latina que já possuíam guias alimentares formulados. A Costa Rica iniciou o processo no mesmo ano com um diagnóstico epidemiológico da população e posterior elaboração dos guias alimentares. Alguns países elaboraram, validaram e reproduziram seus guias alimentares, os quais estão em processo de implementação, como Chile, Costa Rica, Guatemala, Panamá e Venezuela18.
A maioria dos países mencionados desenvolveram os guias alimentares para a população adulta e saudável18. A inexistência de guias específicos para a população infantil se deve à dificuldade nas adaptações dos conteúdos, das mensagens e das porções de alimentos expressas, com o propósito de torná-los compreensíveis e motivadores.
No Chile, Yañez et al. (2000)19, com a finalidade de facilitar o uso da Pirâmide Alimentar, validaram estes instrumentos para crianças em idade escolar. Na Argentina, no ano de 2000, foram desenvolvidos Guias Alimentares para a população adulta saudável e recomendou-se a definição de guias específicos para menores de 2 anos.
No Brasil, um esforço conjunto do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e de universidades produziu um guia alimentar para crianças de 6 a 24 meses, considerando o perfil epidemiológico e os hábitos alimentares desta população20.
Mesmo com poucos trabalhos publicados na área de guias alimentares infantis, é válida a discussão dos presentes resultados, com relação a grupos, tipos de alimentos e preparações, formas usuais de consumo e tamanho das porções. Ressalta-se que o guia descrito nesta pesquisa necessita de validação e implementação, fases enfaticamente recomendadas pelos organismos internacionais. 

CONCLUSÃO

A pirâmide alimentar desenvolvida para crianças de 2 a 3 anos de idade apresenta-se como um instrumento para orientação de pais, educadores e profissionais da área da saúde sobre a melhor forma de conduzir a alimentação infantil, servindo como guia para uma alimentação saudável.
Para a elaboração da pirâmide alimentar foram considerados fatores como a disponibilidade e a presença de alimentos que fazem parte do hábito dos brasileiros, contribuindo para o processo de adaptação da criança ao consumo alimentar da família. O tamanho das porções está adaptado às características da idade da criança, às variações do apetite e à limitada capacidade gástrica, possibilitando também fácil entendimento e aplicação.
É importante que a pirâmide alimentar seja sempre avaliada e adaptada em função dos objetivos aos quais se destina e da população a ser atingida, respeitando-se a disponibilidade de alimentos regionais e os hábitos alimentares, pois assim ela pode se tornar um guia prático de orientação nutricional.
Fonte:http://www.rgnutri.com.br/

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